quarta-feira, 23 de abril de 2014

A Terapia


Há muito tempo buscava foco, respostas, sentimentos. Na verdade, nem Agatha sabia o que procurava, só sabia que faltava algo. Talvez fosse a inspiração da madrugada, essa roubada há muito tempo, que lhe incomodava. Pensou que era autossuficiente, que sozinha conseguiria mudar a situação. Tola ilusão. A angústia foi aumentando, a vida passando e resolveu pedir ajuda.

Lá estava ela, sentada na sala de espera e pensando se iria com a cara da psicóloga. Sim, era um tiro no escuro, sem indicação. E se não gostasse? Como iria contar sua vida e suas insatisfações para alguém que não a fizesse sentir à vontade. Talvez pudesse sair dali para nunca mais voltar.

À primeira vista, Agatha se sentiu bem. Mas não demorou muito para algo sair de seu controle. Nos primeiros dez minutos, observou que sua psicóloga começara a dormir. Pode-se usar o termo cochilar, pescar, até mesmo entrar em Alfa, tudo, mas o fato é que a sua "esperança" não estava em condições de ouvi-la.

De repente ela se viu numa situação constrangedora e foi perdendo a sequência do que estava falando. Não sabia se acordava a mulher, se saia dali ou se continuava tentando contar suas angústias para as paredes.

Enfim, todo mundo tem um dia ruim, cansativo, com sono mesmo. Isso não a faria desistir, afinal, tinha ido com a cara da mulher.

...

Lá estava ela novamente. Conseguiu encarar aquela segunda-feira tensa, pós-feriado, quando acumula tudo o que era para ter sido feito enquanto você descansava. Enfim, Ágatha correu e chegou a tempo na sessão. Chegou a pensar, de brincadeira, que talvez hoje seria o seu dia de dormir. Ao chegar, a maior simpatia: vamos entrar, sentar e contar como se tem se sentido.

Não precisou abrir a boca para começar uma conversa, como aquelas que acontecem no ponto de ônibus: diarista, filhos, trabalho, trânsito... relatos e mais relatos... da psicóloga! Quando Ágatha tentou mudar o rumo da prosa, já que era ela quem deveria desabafar, a surpresa: olhos fechados, pescoço entortando e conclusões desconexas ao pseudo-acordar.

Dessa vez o sono deveria estar pior, pois a sessão foi encerrada na metade do tempo. Talvez isso tenha acontecido para Agatha perceber que só ela poderia mudar sua situação, sem esperar que as soluções venham de fora, já que as mudanças precisam começar de dentro, sempre.

...

A terceira sessão, bem, essa nunca aconteceu.




quarta-feira, 5 de março de 2014

Felicidade: sensação de bem-estar, completude e prazer


É comum ouvir as pessoas dizendo que estão felizes ou condicionando a felicidade a algo que elas procuram, como um bom emprego ou uma união estável, entre outros desejos. Mas... A felicidade é um estado momentâneo de espírito ou está relacionada a um conjunto de fatores como amizade, condição financeira e relacionamento amoroso?

“Resumidamente pode-se dizer que felicidade é um estado de humor, uma emoção experimentada de maneira subjetiva que tem como característica a sensação de bem-estar, de completude, de prazer”, explica a psicóloga Senir Pereira, especialista em Psicoterapia de Orientação Analítica.

A psicóloga explica que este estado é disparado por eventos do cotidiano das pessoas como encontrar alguém que gostamos muito, ganhar um presente, receber uma boa notícia, etc. “Porém todos nós temos um “reservatório” que deve ser construído ao longo da vida. Cada experiência que vamos tendo de relacionamento familiar saudável, de relacionamentos afetivos duradouros, de realizações pessoais e profissionais é como se fossem abastecendo esse nosso 'reservatório de bem-estar'”, acrescenta Senir.

Nos últimos anos, cada vez mais pesquisadores - filósofos, teólogos, psicólogos e cientistas sociais - têm tentado descobrir o que nos faz felizes. A maioria das respostas está relacionada ao dinheiro. Afinal, sempre vai existir a famosa pergunta: Dinheiro traz felicidade? Alguns comediantes gostam de responder que dinheiro não traz, mas manda buscar!

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

A teoria é linda, a prática nem tanto


Comemorei mais uma virada de ano, graças a Deus. Nem todos conseguiram isso. Isso já é um motivo para comemorar, sim. Principalmente se você tem saúde, família, amigos, emprego e consegue dar boas risadas dos problemas da vida. Parece papo de mãe, ou daquela tia que te visita vez ou outra, mas a cada ano é mais perceptível como elas estão certas.

No entanto, as coisas não vão se transformar como magia só porque bateu meia-noite do dia 1º de janeiro... algo parecido, que eu me lembre, aconteceu apenas na estória da Cinderela, e ainda teve efeito negativo. Mas é fato que sentimentos de esperança e motivação se acendem dentro de muitas pessoas nessa época.

Todo começo, de tudo, traz uma sensação de que será diferente, melhor, uma nova etapa. E é nesse clima que listas são criadas, mesmo que mentalmente, com objetivos, desejos, metas e até as pendências do ano anterior, para que, desta vez, tudo seja diferente, “saia do papel”.

Ok, você está disposta a fazer tudo diferente e começa o ano no gás! No segundo dia de janeiro está praticamente tudo parado, provavelmente influenciado pela ressaca da virada. Mesmo que você queira começar seu ano acelerada, não dá. Então fica para o outro dia... e você acaba observando que só consegue começar a riscar sua listinha na segunda semana do ano, quando as coisas estão voltando, lentamente, ao normal.

A terceira semana já traz o dia 20, que, neste ano, fiquei sabendo que é considerado o dia mais triste do ano, segundo o estudo do psicólogo da Universidade de Cardiff, no País de Gales, Cliff Arnall. Não sei se foi coincidência ou a notícia influenciou meu subconsciente, mas à noite eu fiquei bem chateada. Porque, de acordo com a pesquisa acontece “queda da motivação e uma crescente cobrança para realizar coisas” nesta data. E foi então que observei que ainda não havia conseguido riscar itens importantes na minha listinha, não havia fugido da rotina ou feito algo diferente.

Os dias não desaceleram e o mês acaba. Ainda me agarro à sensação de que “vou começar fevereiro diferente, janeiro foi uma adaptação ao novo ano”. Mas enfim, faltam algumas horas do sexto dia do segundo mês acabar, um dia com muitos planos abalados por meia hora numa agência bancária para tentar resolver um problema que me causaram, mais meia hora na tentativa de solucioná-lo pelo internet bank e mais meia hora no telebanco. E assim mais um dia é riscado do calendário, sem eliminar pendências ou conseguir algo novo. E você? Como tem lidado com seu desejo de mudança? 


terça-feira, 27 de agosto de 2013

Um lugar inspirador


Era uma sexta-feira que prometia terminar bem gelada quando ela andava pela Rua Augusta, em São Paulo. Havia marcado de encontrar uma turma, mas, por incrível que pareça, estava adiantada para o horário combinado. Meio sem rumo, lembrou de uma ótima opção para investir o tempo que restava: uma livraria. E não era apenas uma livraria, era a livraria. Alguns andares, várias poltronas e uma infinidade de almas sedentas por conhecimento. O ambiente fervilhava às 18h daquele dia... Um dia em que muitos estariam no bar para o tão esperado ‘happy hour’.

Mas ao adentrar naquele local, teve a impressão de que as pessoas haviam saído correndo do trabalho direto para lá. Disputavam civilizadamente poltronas e puffs distribuídos em todos os ambientes, até mesmo algumas partes do chão eram concorridas. As pessoas conversavam sobre autores, histórias, desejos de comprar mais livros... Realmente, sempre que visitava aquela livraria, ela se sentia diferente e naquele dia não poderia ser de outro jeito.

Todo o cenário, a variedade de opções para leitura, aquelas pessoas sentadas devorando livros, como se não existisse mundo ao redor, uma sede de conhecimento, era impossível não ser inspirador, parecia que aquele ambiente pertencia a um universo paralelo. Entrava em um conflito de pensamentos incrível. Queria muito ler, de tudo, ao mesmo tempo, e rápido. Era como se quisesse consumir tudo o que não aproveitou até ali, nos seus quase 30 anos de vida. As milhares de páginas distribuídas nos mais diversos gêneros literários e até mesmo os estilos que não gosta, mas sabe que seria importante conhecer.

Foi subindo as escadas vagarosamente, observando aqueles que pareciam se transportar para outro mundo enquanto suas pernas se dobravam no chão, a coluna pendia para um dos lados e os olhos fixavam as páginas de uma obra. A cena precisava ser gravada, mais precisamente digitada, mas nem um papel para rascunho ela carregava na bolsa. Tentava congelar todas as cenas e, principalmente, aquele sentimento.

Após percorrer todos os andares, encontrou uma única poltrona abandonada. Provavelmente não devia estar assim há muito tempo, e foi nela que resolveu continuar sua observação. Ela não sabe quanto tempo permaneceu ali, mas foi o suficiente para pensar em muita coisa, para imaginar como seria a vida de cada um, o que devia atrair tanto a atenção e quais eram os sonhos de cada um que estava mergulhado naquela fascinante leitura.

Por uma fração de segundo, ela bateu o olhar no relógio e viu que havia se atrasado para o encontro. Era hora de ir embora, mas queria contar aquela visita. Dias depois, colocou Bob Marley como fundo musical para inspiração e os dedos em ação. Não conseguiria descrever toda a sensação vivida naquele dia, muito se perderia no caminho, mas talvez a melodia ajudaria a tocar sua alma.


terça-feira, 13 de agosto de 2013

A saga das camas


Então, quando eu pensei que a novela havia acabado... Estava só começando!

Dia frio, não. Dia geladíssimo. Mas dia de resolver alguns probleminhas e isso era ótimo! Na correria da madrugada, esqueci de deixar a chave do apartamento na portaria para que a empresa responsável pela coleta da cama com defeito, que não agendou data, retirasse a cama.

Por conta disso, para garantir que a transportadora não perdesse a viagem novamente, liguei (e consegui falar, o que é raro) para informar que o produto não poderia ser retirado naquele dia. No entanto, quem me atendeu falou que o responsável me ligaria quando chegasse, o que não aconteceu e na correria do trabalho acabei esquecendo.

Enfim, mesmo assim o dia seria produtivo, pois iriam buscar minha antiga cama para doação e chegaria a nova. Liguei na portaria para saber se tudo estava correndo bem... detalhe, tive o cuidado de ligar para verificar. Por coincidência, liguei bem na hora que estavam retirando a cama e a responsável pela portaria avisou que a nova havia chegado.

Maravilha! Mesmo a montadora não dando certeza que conseguiria montá-la no mesmo dia, já eram dois problemas resolvidos... faltaria chegar o colchão e devolver a cama com defeito. Ao chegar em casa, a surpresa! Confesso que passou pela a minha cabeça que a situação pudesse acontecer, mas logo analisei que seria impossível: a transportadora veio buscar a cama com defeito, que estava devidamente embalada como a empresa exigiu, e levou a cama velha, sem embalagem alguma!

Era muito para um dia só! Para completar, no momento em que eu ouvia, chocada, o porteiro contar (já haviam trocado de turno na portaria), chegaram os rapazes para pegar a cama para doação... Minha cara? De paisagem, claro!

Corro para casa, ligo para a transportadora torcendo para me atenderem (repito, é algo raro) e logo consigo explicar a confusão. Promessa de desfazer a troca no dia seguinte e mais orações pela frente. O que me consola é que não fizeram o contrário: entregaram a cama nova para doação, porque esses sim, não desfazem a troca! rs


*Não parece, mas sim, é uma história real.


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Talvez a TPM explique

Antes de chegar ao dia em que fiquei atacada, diga-se de passagem, pela TPM, voltarei um pouco na história para situá-los melhor. Comprei uma cama pela internet. Sim, pela internet, como já comprei outros móveis que vieram desmontados e atenderam às minhas expectativas. Nunca tive preconceitos e nem problemas com isso, e dessa vez também não deveria ser diferente.

Entrega no prazo e material esperado. O grande problema não foi a compra, mas sim, o fabricante. Mais especificamente a burrice dele ou a ‘economia’ de madeira na cama que vem embaixo da que eu comprei (aqueles modelos com cama auxiliar). Pois bem, ao montar a cama de baixo, seguindo a ordem do mega manual de meia folha que tem apenas desenhos e sinalização com números, me deparei com a surpresa!

Existia um vão de quase 10 cm entre uma cama e outra, definitivamente horrível! Tem quem não ligue, mas eu ligo sim e detestei, muito. Pode parecer que eu busco a perfeição, talvez, mas não era a cama que eu esperava. Como na foto a cama auxiliar aparecia aberta e com o colchão, não dava para visualizar nitidamente essa diferença e, por já ter tido duas camas desse modelo, não imaginei que alguém fabricasse uma coisa tão mal feita, ou de tão mau gosto!

Enfim, olhei algumas vezes e aquilo continuava me incomodando, mas trocar o produto não passava pela minha cabeça... até acordar um dia, digamos, um pouco “atacada”. No sétimo dia do recebimento da cama, e último para acionar a troca, entrei em contato com a empresa e solicitei a devolução. Mesmo sabendo que meu namorado iria ficar louco ao saber, já que passamos o final de semana todo montando aquela bendita cama! 

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Fico por aqui

Apesar do “Caso Rondon” não ter chegado ao fim, e muito menos a um final feliz, preciso me despedir. Todavia, é bom frisar que ainda não existe data para o julgamento de Alberto Rondon. Para finalizar minha participação, neste capítulo vou explicar como o caso está posicionado na justiça atualmente. Por isso, resolvi ouvir a defensora pública Maria Gisele Scavone de Mello e, para minha surpresa, no fechamento do livro, consegui ouvir a defesa de Rondon. Não pensem que o ex-médico decidiu me conceder uma entrevista. Digamos que um passarinho me contou...

Demorou alguns meses para que eu conseguisse falar com a defensora pública que está cuidando do caso de algumas vítimas de Alberto Rondon, mas quando Maria Gisele Scavone de Mello me atendeu, logo me concedeu uma entrevista.

Gisele atua na Defensoria da Mulher há dois anos, e quando assumiu a atual função muitos processos já haviam sido transferidos para a Justiça Federal e ela não teve mais acesso a eles. A defensora explicou que os processos que estão tramitando no Fórum são de assistência da acusação na área criminal, atuando ao lado do Ministério Público, e, na área civil, são para indenizações.

“Eu atendo a mulher em qualquer situação, desde que ela seja vítima de violência. Se ela tem audiência no juizado criminal eu acompanho. O Ministério Público faz a parte dele e eu faço o resto”. Gisele explica que para a mulher ter o auxílio da Defensoria Pública precisa declarar que é carente, assinando um documento que ratifica o fato de não ter condições financeiras e, caso a declaração seja falsa, responde criminalmente. “Nós podemos fazer uma triagem para saber se a informação é verdadeira”.

A Defensora revela que muitas mulheres optaram por um advogado particular e por isso ela não tem acesso ao número total de vítimas que acionaram Alberto Rondon judicialmente. “Não são todos os casos de Rondon que estão na Defensoria, somente daquelas mulheres que não tinham dinheiro, mas queriam acionar a justiça”. Na época, o Ministério Público reuniu em torno de 15 vítimas e montou um único processo, descrevendo a lesão de cada mulher. Por isso, Rondon responde a um único processo, com várias vítimas.

Está havendo uma certa demora tanto nos processos na área civil como na criminal. Na civil, os processos estão parados na prova pericial; e na área criminal, ainda estão sendo ouvidas as testemunhas de acusação. Alguns processos com data do ano de 1999, de 2001, ainda estão na fase de ouvir as mulheres e as testemunhas. São mais de cinco anos e não foram ouvidas todas as vítimas. Esta demora, que está ocorrendo na hora de marcar as audiências, é muito prejudicial, pois após um certo tempo o processo prescreve. “Não sei o que está acontecendo, o juiz deve estar com muito trabalho, com a agenda muito cheia”, comenta Gisele.